Em sua obra Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano, Grada remete-se às lógicas das relações coloniais para revelar a exclusão, as micro e macro violências, os insultos raciais e o controle dos corpos de indivíduos negros e, ainda, sobre a urgência de um devir, “é preciso tornarmos sujeitos”.
Lança mão de uma articulação entre vários campos teóricos tais como a psicanálise, estudos sobre pós colonialismo, feminismo negro antirracista e interseccional, branquitude enquanto modelo europeu de sujeito e estudos de gênero para desenvolver seu estilo de escrita sob os moldes de “histórias psicanalíticas” através de uma narrativa poética. A reunião dos mais variados episódios quotidianos nos faz lembrar experiências pessoais em alguma medida. Os negros identificam-se, os brancos despertam.
Grada conversa com a arte a todo momento. Acredito ser a melhor forma de transcender o engessamento acadêmico e se conectar com a nossa gente de forma profunda e proativa. Em suas apresentações ressalta a cor da pele e o cabelo como marcadores na afirmação da identidade negra européia.
Ela preocupa-se com a língua enquanto um instrumento de violência colonial. Durante sua estadia em Lisboa, nos agraciou com sua presença e lá revelou seus anseios quando resolveu lançar a versão do livro em português. Grada tem uma fala mansa, calma, tranquila. Tem a sabedoria das velhas, das griots. Perguntei a ela: “o sujeito da psicanálise é branco, onde está o sujeito negro?” Ela respondeu: “aqui, em nós, em todo lugar”. É isso, somos sujeitos , queiram eles ou não.
Essa é uma obra importante para todos os psicólogos que se comprometem com uma clínica antirracista e entende a necessidade de se ir além de uma psicologia/psicanálise tradicional, explorar outras epistemologias para melhor acolher a diversidade e entender os atravessamento do racismo no setting terapêutico. Como Grada Kilomba diz: “é preciso estilhaçar a máscara do silenciamento e denunciar o racismo”.
Desejo uma boa leitura!